Quem é?

Ao contrário de boa parte dos filmes contemporâneos, Batem à porta traz no título um sujeito indefinido. O verbo, conjugado na primeira pessoa do plural, fica evidente, mas o agente de sua ação permanece em segredo. Afinal de contas, quem bate à porta? Uma primeira leitura, mais óbvia, seria aquela que a trama do próprio …

Perder Jean-Luc Godard

Acordar em um mundo sem Godard é acordar em um mundo sem mistério.  É acordar em um mundo sem enigmas. É mais que perder uma parte de nós, é perder uma parte do outro. Se perdêssemos os cineastas que amamos, perderíamos como a um ente querido: se perdêssemos Wenders, Costa, Eastwood ou Ferrara iria-se também …

Na bacia das almas

Tem um elemento que me parece ter sido deixado de lado nas análises de Crimes do Futuro (David Cronenberg, 2022), que é o andar de Viggo Mortensen — o flâneur, o rastejar, o circuito do corpo. De todas as imagens do último filme de Cronenberg, aquela que se apresenta em maior condição de permanência é …

Contornar o incontornável – 80 filmes dos Anos 80

As listas propostas para a votação da Cinefilia Brasileira, organizadas pelo Pedro Lovallo, conjugam sempre um desafio considerável. Antes de mais nada, considero refletir toda minha trajetória cinéfila até encontrar um meio-termo. Fazer uma lista é um exercício de vaidade, de construção de pensamento e de narrativa cuja ordem dos filmes desencadeia. Já pensei muito …

Dez menos um: apontamentos sobre Licorice Pizza

1. O grande trunfo de Paul Thomas Anderson é como escala seus atores. E principalmente os atores que escala. Sean Penn, Tom Waits, Maya Rudolph, Bradley Cooper, Benny Safdie, John Michael Higgins, Harriet Sansom, Joseph Cross e, finalmente, Alana Haim e Cooper Hoffman. Todos eles com tiques e adereços particulares, caracterizações muito específicas que funcionam, …