Depois da ressaca – +30 curta-metragens brasileiros da década (2010-2019)

No início do ano, postei aqui no site uma lista com 30 curta-metragens brasileiros possíveis para a década que passou. A lista era baseada não necessariamente naquilo que seriam os melhores filmes feitos – conceito logicamente subjetivo e pessoal. Acima de tudo, era uma lista de possibilidades. Escolhas pessoais, é claro – baseadas unica e exclusivamente naquilo que tive a oportunidade de assistir -, que poderiam representar uma gama de desdobramentos para os quais o cinema brasileiro em curta-metragem apontou nos últimos 10 anos.

Agora, passado já algum tempo e especialmente com a quantidade abrasiva de obras disponibilizadas online por realizadores e produtoras, fruto do contexto de isolamento e de resguardo social, as possibilidades se multiplicaram.

A lista que faço aqui não seria necessariamente uma continuação direta e muito menos representaria uma espécie de hierarquia em relação à primeira. É muito mais fruto de um desejo de elencar, catalogar e discorrer sobre os caminhos e veredas que esse formato fílmico tão caro ao cinema brasileiro durante toda sua história têm apresentado nos últimos tempos.

De todo modo, ei-la aqui:

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31. A OUTRA MARGEM (Nathália Tereza, 2015)
Cinema de tristeza e melancolia. A solidão numa via vazia e num motorista solitário. Viver tão intensamente quanto uma picape que se debate pelas ruas ao som do rádio e das canções de amor.

32. RUIM É TER QUE TRABALHAR (Lincoln Péricles, 2015)
Sketches sobre a porcaria da vida brasileira. 500 anos de subdesenvolvimento em um personagem.

33. PRENOME WALTER (Leonardo Amaral e Roberto Cotta, 2016)
O homem como fundamento da sua própria cultura. Longa vida a Walter Trakinas.

34. PARA TODAS AS MOÇAS (Castiel Vitorino Brasileiro, 2019)
O que é ser um corpo político. Representatividade no cinema brasileiro deveria carregar esse filme debaixo do braço.

35. INTERVENÇÃO (Pedro Maia de Brito, 2014)
Eu já posso ligar a câmera?

36. QUANDO MORREMOS À NOITE (Eduardo Morotó, 2010)
Dois corpos que se precisam muito além de suas capacidades de coexistir.

37. FESTEJO MUITO PESSOAL (Carlos Adriano, 2016)
“O cinema brasileiro nasceu experimental” (Júlio Bressane). Desconheço filmografia sobre saudade mais pungente. Carlos Adriano é definitivamente o mestre tolhedor das imagens do passado e, falando em passado, que saudade temos de Paulo Emílio.

38. CONSTELAÇÕES (Maurílio Martins, 2016)
A quintessência da dramaturgia. Rostos na noite, vidas apartadas e estrelas no céu. Que tremendo ator é Renato Novaes.

39. PONTE SOBRE ABISMOS (Aline Motta, 2017)
Com quantas telas mesmo que se faz cinema? Herança e hereditariedade retalhadas pela possibilidade que as imagens nos dão de serem espelhos.

40. OS CEGOS (Bruno Risas, 2014)
A história se faz agora, truta.

41. O MUNDO É BELO (Luiz Pretti, 2010)
Manifesto da pureza da vida. Filmar de perto este mundo tão longe.

42. O GOLPE EM 50 CORTES OU A CORTE EM 50 GOLPES (Lucas Campolina, 2017)
Mostra a tua cara, Brasil!

43. NINJAS (Dennison Ramalho, 2010)
George Romero para a civilização brasileira.

44. A BARCA DO SOL (Leonardo Amaral, 2017)
Richard Linklater anos 2010.

45. FILME SELVAGEM (Pedro Diógenes, 2014)
O mundo destinado ao fracasso. Obra-prima da não-montagem.

46. CASA FORTE (Rodrigo Almeida, 2013)
Amor em precipício, cidade em ruínas.

47. VANDO VULGO VEDITA (Andréia Pires e Leonardo Mouramateus, 2017)
Diálogos com a personalidade. Filmar de forma leve, mesclar de forma criativa.

48. O BRINQUEDINHO NOVO DO GABITO (Gabriel Martins, 2010)
O YouTube chega ao cinema brasileiro (ou Um Homem com Uma Câmera).

49. SÓ SEI QUE FOI ASSIM (Giovanna Muzel, 2018)
Notas sobre ser um tigre na cidade grande.

50. ALUGUEL: O FILME (Lincoln Péricles, 2015)
Nunca esquecer que o rap é compromisso.

51. GOZO/GOZAR (Luis Rosemberg Filho, 2016)
As flores do mal.

52. DIZEM QUE OS CÃES VEEM COISAS (Guto Parente, 2012)
A burguesia é o último dos cães a ser morto.

53. A RETIRADA PARA UM CORAÇÃO BRUTO (Marco Antônio Pereira, 2017)
O realismo fantástico pousa no interior de Minas Gerais.

54. LOOPING (Maick Hannder, 2019)
Carta de amor em formato de frame.

55. O PEIXE (Jonathas de Andrade, 2016)
Abraços partidos.

56. LEMBRANÇAS DE MAYO (Flavio C. Von Sperling, 2015)
Pornochanchada dos anos 2010.

57. MENS SANA IN CORPORE SANO (Juliano Dornelles, 2011)
Músculo nevrálgico do terror.

58. RUA DE MÃO ÚNICA (Thiago Mata Machada e Cinthia Marcelle, 2013)
O cinema existe no plano – ou fora dele.

59. NOVE ÁGUAS (Gabriel Martins e Quilombo dos Marquis, 2019)
O discurso da forma. Filme absolutamente límpido sobre suas ideias, longe do malabarismo retórico e totalmente frontal ao discurso.

60. ADORMECIDOS (CLARISSA CAMPOLINA, 2011)
Olhares do concreto, luzes da cidade.

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