Publiquei aqui, anteriormente, duas listas com aquilo que considerava um conjunto importante de curta-metragens da década (2010-2019) no cinema brasileiro. Sim, é claro que ficaram muitas coisas de fora, como também é claro que muitos dos filmes descartados o foram pois não tive a possibilidade de vê-los. O intuito sempre foi único, criar um inventário pessoal, poder compartilhá-lo.
Com isso, sobraram algumas (várias) lacunas do que pode ter sido o cinema brasileiro nessa década que passou. Daí surge essa lista, que compila 40 filmes que marcaram minha subjetividade e escolha durante essa década. Mas, acima de tudo, que representam um itinerário daquilo que vivemos. Desses 10 anos em que o cinema brasileiro se desdobrou em tantos outros, se reinventou, aprendeu a se refazer.
Portanto, essa lista não guarda necessariamente qualquer vontade de decifrar um significado exato do que foi nosso cinema. É muito mais um inventário, um guia que lembra as águas pelas quais navegamos. Que contempla o surgimento de forças e pólos distintos e que afirma, de todas as formas, que aqui estamos: vivos, fazendo filmes.
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1. A VIZINHANÇA DO TIGRE (Affonso Uchôa, 2014)
A vida e a morte cozinhando no quintal de casa. O espaço que sobra entre realizador e encenador desconfigurado e transformado em partilha. Imagens que viram fiapo de alma.

2. ESTRADA PARA YTHACA (Irmãos Pretti e Primos Parente, 2010)
O filme que vira o cinema brasileiro de cabeça pra baixo. Mostra que podemos trabalhar juntos, herdeiros do subdesenvolvimento, filhos de nossas próprias ideias e imaginações.

3. A CIDADE É UMA SÓ? (Adirley Queirós, 2011)
O filme que vira o cinema brasileiro de cabeça para cima. Pode ser político e pode ser apocalíptico. Novas tendências para as heranças de nosso mundo em crise.

4. SOL ALEGRIA (Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira, 2018)
Masturbação como gesto político. Celebrar como forma de anarquia. Comemorar o apocalipse.

5. VERMELHA (Getúlio Ribeiro, 2019)
O jardim de veredas que se bifurcam.

6. ELON NÃO ACREDITA NA MORTE (Ricardo Alves Jr., 2016)
Filmes de guerra, canções de amor. O filme leonino dessa década.

7. INFERNINHO (Pedro Diógenes e Guto Parente, 2018)
A vontade de ser feliz. Teatro de melodrama para imagens melancólicas. O cinema brasileiro redescobriu o tableau.

8. ARÁBIA (Affonso Uchôa e João Dumans, 2017)
Memórias póstumas da Era Lula.

9. A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ (Neville D’almeida, 2015)
Notas do inferno.

10. BRANCO SAI PRETO FICA (Adirley Queirós, 2015)
Reparação histórica (ou No final, tudo explode)

11. JÁ VISTO, JAMAIS VISTO (Andrea Tonacci, 2014)
O começo do fim.

12. A MISTERIOSA MORTE DE PÉROLA (Guto Parente, 2014)
Imagens desafiadoras.

13. TRABALHAR CANSA (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2011)
Esse novo fantasma chamado capitalismo.

14. O SOM AO REDOR (Kleber Mendonça Filho, 2012)
Esse velho fantasma chamado capitalismo.

15. ELA VOLTA NA QUINTA (André Novais Oliveira, 2015)
Os gestos que representam o todo. Nunca foi tão especial carregar uma geladeira.

16. CORPO ELÉTRICO (Marcelo Caetano, 2017)
Sobre existir e transitar sem mais ressalvas. Ser ou ser, não mais questões.

17. SUBYBAYA (Léo Pyrata, 2017)
O autor no divã. O filme para o qual ninguém havia se preparado.

18. BEDUÍNO (Júlio Bressane, 2016)
Imagens para um país sem dono.

19. O CLUBE DOS CANIBAIS (Guto Parente, 2018)
Delírio coletivo.

20. DOCE AMIANTO (Guto Parente e Uirá dos Reis, 2013)
Lobo em pele de cordeiro. Toda a tristeza que o afeto carrega. O filme mais destemido da década.

21. TEMPORADA (André Novais Oliveira, 2018)
Um mundo em que se pode ser feliz.

22. FILME DE ABORTO (Lincoln Péricles, 2016)
As imagens não tem dono.

23. A NOITE AMARELA (Ramon Porto Mota, 2019)
Kiyoshi Kurosawa para millenials.

24. AQUILO QUE FAZEMOS COM AS NOSSAS DESGRAÇAS (Arthur Tuoto, 2014)
Incompletude e incomunicabilidade.

25. BATGUANO (Tavinho Teixeira, 2014)
Avacalhar os mitos. Edgar Navarro anos 2010.

26. JOAQUIM (Marcelo Gomes, 2017)
Dessacralizar o artifício (ou O fluxo do materialismo).

27. RIFLE (Davi Pretto, 2016)
Alvo certeiro.

28. GAROTO (Júlio Bressane, 2015)
Viagem ao centro do mundo.

29. SEDUÇÃO DA CARNE (Júlio Bressane, 2018)
O monólogo da década.

30. A FEBRE DO RATO (Cláudio Assis, 2011)
Poesia no esgoto. Filmar sem medo das consequências.

31. PRAIA DO FUTURO (Karim Ainouz, 2014)
Onde o melodrama encontra o requinte. Filme de sensibilidades.

32. O OLHO E A FACA (Paulo Sacramento, 2018)
O Brasil em pauta.

33. MUITO ROMÂNTICO (Melissa Dulius e Gustavo Jahn, 2016)
Retrato do artista enquanto jovem.

34. PENDULAR (Julia Murat, 2017)
Retrato do artista enquanto em crise (e com ciúme).

35. AS MELHORES COISAS DO MUNDO (Laís Bodanzky, 2010)
O filme teen da década.

36. O NÓ DO DIABO (Ian Abé, Gabriel Martins, Jhésus Tribuzi, Ramon Porto Mota, 2017)
O princípio de um caminho para revisar a história.

37. O FIM DE UMA ERA (Bruno Safadi e Luiz Pretti)
Filme dentro do filme depois do filme. Sombras e reflexos de cinema.

38. NO CORAÇÃO DO MUNDO (Gabriel Martins e Maurílio Martins, 2019)
A conclusão de um projeto de cinema. Coletividade e alma, trocas e respiros.

39. CANASTRA SUJA (Caio Sóh, 2018)
O diabo, provavelmente.

40. OS MONSTROS (Irmãos Pretti e Primos Parente, 2011)
Demover a tradição.