Jamais concordaria que os filmes de Paul Verhoeven merecem qualquer defesa tanto por acreditar que não necessitam de uma como também porque, penso, eles próprios já cumprem tal papel diante da faísca que produzem em um sistema de obras cada vez mais achatado e comportado. Dizer que falar bem de Benedetta é praticar uma defesa… Continue lendo Um filme como os outros
Categoria: Resenhas
A maldição do establishment
Existe um tipo de vírus ou maldição que assola o cinema americano desde (quase) sempre. Trata-se, mais especificamente, de um modelo de encenação decididamente asséptica e articulada com os “grandes temas” do momento, algo como colocar na mesa as pautas do dia para, pouco a pouco, desdobrá-las da maneira mais palatável possível ao gosto do… Continue lendo A maldição do establishment
Depois da miragem
Existe algo fincado bruscamente no coração de Uncut Gems que pretende carregar-nos até o final da toca do coelho. Um elo ou pacto com o demônio que irá levar-nos até onde nada é permitido, ao fundo daquilo que as paredes duras da sensorialidade insistem em negar. Este filme restaura alguma capacidade que detinha William Friedkin… Continue lendo Depois da miragem
I’m happy to see you alive
Já faz algum tempo - mais especificamente, desde que passou a viver na Europa - que Abel Ferrara recusa-se a realizar qualquer cinema em que o ensejo principal não seja uma busca de um espaço e de uma amplitude para o corpo poder existir. Foi-se a época em que as imagens poderiam se desvelar aos… Continue lendo I’m happy to see you alive
Movimento para inércia
A chave-mestra do cinema de Harmony Korine sempre se deu dentro da segunda ou terceira camada que as suas imagens apresentam. No início, havia por fora a sensação de estranhamento, os corpos tortos e dilacerados de Gummo (1997), a esquisitice desengonçada de Julien Donkey-Boy (1999). Com o passar do tempo, a estranheza material (em tela,… Continue lendo Movimento para inércia
Descaminhos e descontinuidades
1.Confesso que gostei bastante do último de Spike Lee por que é, antes de tudo, um filme de imagens, um labirinto múltiplo de interpretações e subtextos que se acoplam e constituem. Grosso modo, um filme de colagens, por muitas vezes grotesco e direto e, mais do que qualquer coisa, completamente impróprio ao que o cinema… Continue lendo Descaminhos e descontinuidades
Os corpos enjaulados
Tatuagem (2013), primeiro longa de ficção de Hilton Lacerda, foi lançado tem sete anos, mais ou menos na mesma época que comecei a estudar cinema. Até hoje, nunca o vi. Tampouco me veio o interesse de visitar o filme. Digo isso por duas razões: a primeira é para acertar as contas com uma ideia um… Continue lendo Os corpos enjaulados
O acaso ainda vai me proteger
A sina da autoescola pelo acidente automobilístico trava um confronto crasso com a crença do acaso. Durante aulas, acidentes e mais acidentes são mostrados em forma de exemplo, na ideia de que um condutor poderá sempre estar nas condições de evitá-lo. É uma norma geral aplicada a um conceito de máquina, uma representação na crença… Continue lendo O acaso ainda vai me proteger
Notas do inferno
Quando Benjamin escreveu sobre a tarefa do tradutor, apontou que as obras possuíam em si uma capacidade de serem ou não traduzidas. Não culpemos os homens pelas coisas das quais não são capazes. Digo isso pois A Frente Fria Que a Chuva Traz (Neville de Almeida, 2015) é um exemplar de filme intraduzível. Pode-se tentar:… Continue lendo Notas do inferno