Jamais concordaria que os filmes de Paul Verhoeven merecem qualquer defesa tanto por acreditar que não necessitam de uma como também porque, penso, eles próprios já cumprem tal papel diante da faísca que produzem em um sistema de obras cada vez mais achatado e comportado. Dizer que falar bem de Benedetta é praticar uma defesa …
Sem querer, querendo – Olhar de Cinema #04
Parece impressionante que o cinema brasileiro tenha a tendência de se redescobrir por meio do erro e não do acerto. Já aviso também que de forma alguma isso é algo pejorativo ou negativo, afinal, soa impossível que em um país cujo o setor cultural é constantemente esgoelado e descontinuado algo não surja por coincidência ou …
Alguns cinemas brasileiros – Olhar de Cinema #03
O título "Olhares Brasil" sempre cativou-me porque o conceito que o atravessa automaticamente implica em algo que tem por fundamento a multiplicidade: tanto "olhares" quanto "Brasil" são gestos e atributos que não se constituem unicamente de um todo, isto é, não há somente um ou outro Brasil, da mesma forma que não se permite, por …
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Quando a palavra não sai – Olhar de Cinema #02
Entre Mirador (Bruno Costa, 2020) e Rio Doce (Fellipe Fernandes, 2021) sobram semelhanças. A mais clara delas se dá na relação com as figuras paternas, norte final de dois homens desempregados e desajustados, Maycon (Mirador) e Thiago (Rio Doce). Na vida de ambos, a solidão é uma constância, o azar é uma certeza e o …
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Não é real, é filme – Olhar de Cinema #01
Gosto de pensar que os filmes de abertura dos festivais de cinema, antes de qualquer coisa, são uma espécie de aviso sobre o tempo presente, como uma indicação ou inclinação acerca do que se pensa sobre o agora. Não necessariamente são os filmes “urgentes”, mas costumam dizem algo a respeito do momento político ou estético …
Meu país é a escuridão
Sou da ideia de que certos filmes só deveriam ser assistidos na madrugada. Não à noite e muito menos no crepúsculo, mas essencialmente na madrugada. Nas horas mortas em que se pode vagar sozinho por um estado de espírito que se acessa estando na companhia exclusiva da solidão e da vertigem, da sensação de que …
Alquimia, deslocamento, cinema | Ecrã #2
Gostaria de ter dado ao Ecrã o tempo que ele merece, mas o tempo é uma brincadeira de mau gosto. Se eu pudesse recomendar alguma coisa para que se assista nas últimas horas que restam deste exímio festival, diria para dar uma chance a Condor (Kevin Jerome Everson, 2019) e Senhor Jean-Claude (Guillaume Vallée, 2021). …
Na ruína das horas, sonhos de cinema | Ecrã #1
Foi inevitável assistir a Desaprender a Dormir (Gustavo Vinagre, 2021) e não lembrar do cinema de Carlos Reichenbach. Eu imagino que em uma relação entre os mestres do cinema brasileiro, esse talvez não seja aquele que conversa mais diretamente com a obra de Gustavo Vinagre, que é em suma bastante voltada ao documental, ao estudo …
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Tatuagens na superfície da luz: os curtas de Apichatpong Weerasethakul
I Há muito que já se reconhece o cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul como um dos mais influentes realizadores de seu tempo. Não por menos, afinal trata-se do realizador responsável por filmes como Objeto Misterioso Ao Meio Dia (2000), Eternamente Sua (2002), Mal dos Trópicos (2004) e outros tantos mais. O apego da crítica mundial ao …
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Um rastro sobre a coreografia dos corpos
O Alvo (John Woo, 1993) não é um grande filme. Não ao pé da letra. Tudo que se passa nele tem um escopo menor, isto é, uma dimensão mais minimizada. Tudo é grande, claro, como se deve ser em um filme de ação, mas nem tão grande assim. A começar pela trama, que é quase …